sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Menino Lobo - Lobisomen corjesuense

MENINO - BICHO

Uma história estranha em Coração de Jesus




Em 1951, moradores no sertão encontraram este menino em plena mata.  pensaram tratar-se de alguém que se perdera. indagaram e ninguém o conhecia. descobriram qu ele só comia raízes, cascas e folhas de árvores, além de insetos. Não conhecia outro tipo de alimento. Não falava e ouvia mal.
Apiedados, os seus descobridores levaram-no para a cidade onde foi posto na pequena Santa Casa corjesuense, mais propriamente, asilo de velhos.
Fui lá e o vi. Andava pelos rústicos quartos e ganhava comida dos velhinhos. Isto lhe valeu uma violenta disenteria, que quase o matou. Chamado com urgência, Dr. Samuel Barreto, que assistia aos internados alí, dele tratou  salvou-o.
O Dr. Samuel foi quem me chamou para ver o menino. Aconselhei-o a fazer um estudo tão completo quanto possível do garoto: somático, antropológico, fisiológico, com exame de fezes, exame de dentes, medidas pessoais, etc. Não sei se iso foi feito.
Um dia, passou uma grande boiada pela rua em frente a nossa casa. O menino, que não tinha nome, mas era chamado "menino-bicho", o "pretinho" e outros apelativos, entrou no meio da boiada, sem qualquer noção de perigo. as pessoas das janelas tudo viram e temeram pela sorte dele. Os bois passaram, ele passou no meio deles, e nem sequer foi pisado por algum dos animais.
Ele era muito vigiado no Asilo, para não sair à rua.
Uma outra vez, ele conseguiu sair sem que ninguem o visse. foi caminhando pela Rua Formosa (onde ficava o Asilo), atravessou a rua transversal, subiu uma pequena elevação em frente à nossa porta. Estando aberta esta, o menino entrou pelo corredor e foi até o quintal, parando junto a um jardinzinho que ali havia, perto da porta da cosinha. O Ricardo o viu e gritou, mas o fez sem qualquer mostra de medo, apenas cheio de curiosidade.
Eu e Luiza chegamos logo e ele nos olhava aparvalhado. A Luiza deu-lhe pão. a foto mostra-o comendo um e o outro seguro na mão esquerda. Ficou feliz comendo-o. Tomei a máquina KODAK e fotografeio-o duas vezes.
Observe-se a implantação simiesca dos polegares dos pés e bem assim a forma por que os pés se fixam no chão - sem arcada, planta retilínea, membros inferiores disconformes, braços sem parte dos movimentos próprios, pele grossa e enrugada, cabeça grande implantada sobre os ombros, quase sem pescoço. O modo de segurar o pão mostra sua feição primitiva. De evidente raça negra (forma da testa - osso frontal, malares salientes, nariz platirrino, dentes estragados.
Ele morreu pouco tempo depois. supõe-se que o foi devido à inadaptação do organismo à refeição, pois antes só se alimentava de vegetais e insetos. fui ao Asilo e vi-lhe o corpo pequenino, esmirrado, encolhido, no catre rústico.
Pús-me a pensar sobre o espírito que deixara esse corpo castigado pelo carma, espírito agora livre para recuperar sua força e sua luz perdidas em algum desvario anterior ou mesmo anteriores. Orei por essa alma atormentada pela dor.



Relato e fotos extraídos dos arquivos de Ubirajara Alves Macedo.


2 comentários:

  1. Interessantíssimo fato, e espetacular escrita!

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  2. Sendo folclore ou não história comovente que nunca tive a oportunidade de ouvi-lá. ..... vou contá-lá aos meus alunos

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