sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

LENDA: O CABOCLO D'ÁGUA



O CABOCLO D’ÁGUA

 

 


            A história do Caboclo D’água é mais atraente, e menos complicada do que a da “Onça Cabocla”, monstro encantado do folclore Franciscano, que se metamorfoseia em Velha Tapuia. Enquanto o Caboclo D’água, está vivo e forte na imaginação do Caboclo ribeirinho, senhor das águas, a onça cabocla está caindo no esquecimento. A eclosão das carvoarias destrói o seu habitat natural, as florestas.
            O caboclo d’água alimenta-se de peixes e de outros petiscos de que a lama é farta; caramujos, muçuns,ovos e de répteis, etc. Aprecia o fumo em cordas para mascar e pitar no seu cachimbo enorme de pedra. Os pescadores não deixam faltar este suprimento nas praias onde o caboclo o recolhe altas horas da noite. Vivem ambos em perfeita harmonia. Mas, ai de quem o maltratar. Terá de abandonar o barranco do rio; nem morar nas proximidades ousará, pois o inimigo implacável em qualquer parte que a terra faz vazante, procurará o seu rastro.
            Um velho canoeiro, escanecido nas labutas de pesca, contou-me : “ O senhô pode me creiá . Eu e meus três menino, numa pescaria, num pegamo caboclo por causa desta minha  quereca. Dois tavam numa canoa, e noutra, eu e o fio mais novo, o caçulo, de uns dezoito ano. Nisso , de tanto nós tava, escutamo os menino, gritando demais. Nós rumou depressa para lá, mas quando pertinho de chegá nós ouviu um menino a grita : “ Sortá !... Sortá !... Qui é o véio nosso pai”. E nisso nós também viu no escuro que fazia, o bicho rola pra dentro do rio, maretano a água. Pois num qui os bobo dos menino deixaro se encanta a ponto de me confundi eu cum o danado !... Veno a quereca dele lumiá na luz do facho, pensaro qui o bicho era eu, num era nem o bocó pra fica sem grita cum aquela amarração que tinham fazido em roda cum a rede, embaraiando o sem-vergonha.
            O velho falou o tempo todo, os olhos fisgados nos meus. Senti que não podiam ser duvidados. Mas a aventura dos meninos, foi funesta ao macróbio, que de então em diante passou a se debater numa dúvia tremanda. Teria de abandonar o rio, e ele não o poderia fazer. Sucumbiria na certa, se o fizesse. Preferia a morte trágica nas garras do adversário cruel, mas honrosamente a fugir para o gerais. Contudo... “ O bicho é encravado – Continuou o velho –  cobra, mas cobra no duro. Mas como ele gosta de fumo, vou deixa pra ele só do bão do goiano. Pode sê qui ele esqueça das bobage dos menino”.
            Mas não esqueceu...
            Morreram nas garras do Caboclo. Os quatro.


Texto extraído do livro de Ubirajara Alves Macedo.


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