O CABOCLO D’ÁGUA
A
história do Caboclo D’água é mais atraente, e menos complicada do que a da
“Onça Cabocla”, monstro encantado do folclore Franciscano, que se metamorfoseia
em Velha
Tapuia. Enquanto o Caboclo D’água, está vivo e forte na
imaginação do Caboclo ribeirinho, senhor das águas, a onça cabocla está caindo
no esquecimento. A eclosão das carvoarias destrói o seu habitat natural, as
florestas.
O
caboclo d’água alimenta-se de peixes e de outros petiscos de que a lama é
farta; caramujos, muçuns,ovos e de répteis, etc. Aprecia o fumo em cordas para
mascar e pitar no seu cachimbo enorme de pedra. Os pescadores não deixam faltar
este suprimento nas praias onde o caboclo o recolhe altas horas da noite. Vivem
ambos em perfeita harmonia. Mas, ai de quem o maltratar. Terá de abandonar o
barranco do rio; nem morar nas proximidades ousará, pois o inimigo implacável
em qualquer parte que a terra faz vazante, procurará o seu rastro.
Um
velho canoeiro, escanecido nas labutas de pesca, contou-me : “ O senhô pode me
creiá . Eu e meus três menino, numa pescaria, num pegamo caboclo por causa
desta minha quereca. Dois tavam numa
canoa, e noutra, eu e o fio mais novo, o caçulo, de uns dezoito ano. Nisso , de
tanto nós tava, escutamo os menino, gritando demais. Nós rumou depressa para
lá, mas quando pertinho de chegá nós ouviu um menino a grita : “ Sortá !...
Sortá !... Qui é o véio nosso pai”. E nisso nós também viu no escuro que fazia,
o bicho rola pra dentro do rio, maretano a água. Pois num qui os bobo dos
menino deixaro se encanta a ponto de me confundi eu cum o danado !... Veno a
quereca dele lumiá na luz do facho, pensaro qui o bicho era eu, num era nem o
bocó pra fica sem grita cum aquela amarração que tinham fazido em roda cum a
rede, embaraiando o sem-vergonha.
O
velho falou o tempo todo, os olhos fisgados nos meus. Senti que não podiam ser
duvidados. Mas a aventura dos meninos, foi funesta ao macróbio, que de então em
diante passou a se debater numa dúvia tremanda. Teria de abandonar o rio, e ele
não o poderia fazer. Sucumbiria na certa, se o fizesse. Preferia a morte
trágica nas garras do adversário cruel, mas honrosamente a fugir para o gerais.
Contudo... “ O bicho é encravado – Continuou o velho – cobra, mas cobra no duro. Mas como ele gosta
de fumo, vou deixa pra ele só do bão do goiano. Pode sê qui ele esqueça das
bobage dos menino”.
Mas
não esqueceu...
Morreram
nas garras do Caboclo. Os quatro.
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