sábado, 12 de janeiro de 2013

LENDA: LAGOA FEIA


LAGOA FEIA
 


Nosso oásis cravado no meio do chapadão agreste é motivo de ter aumentado tanto o fluxo turístico na região, nos últimos anos, devido a sua geografia.
Um abatimento?
Houve um rompimento na abóbada?
Sim...!
Alguma caverna, por certo, que tempos geológicos construíram muito bem fundo da terra. Partira, chupando o lençol artesiano e aflorando o oásis verde...
É LAGOA FEIA!...
Está situada a quinze quilômetros da sede da cidade. Estrada de terra batida



                        A  LENDA:

             Há séculos passado era um buritizal, formando  um capão cerrado, numa circunferência de seiscentos metros de diâmetro.
              Bem alto,  muito alto, o coqueiral  nivelava as frondes, numa reverência ao mais alongado dos irmãos que se lhe emparelhavam  o porte.
              Era uma palmeira esbelta, aprumada como um fuso,  com seu olho pontiagudos enrolado numa aspiral de pára-raios, verde. Nele,  não as faíscas das tempestades, mas as araras coloridas se agarravam  ao raiar do dia, tagarelas como vozes pré-humanas, lembrando criaturas loquazes, que houvessem existido no começo dos tempos.
              Por baixo, bem no centro do buritizal mergulhava um filete de água que bem poderíamos chamar de uma lágrima grossa, enorme, escorrendo do chapadão agreste, monótono,  tristonho.
               Foi essa mesma lágrima que se fez poço, furou o chão ao pé  da palmeira, alargou-se  tanto que forçou o encaixe de uma estiva de achas de aroeira  para aprisionamento do líquido.
               Nas imediações vivia “Tia” Mariana, com suas aves, seus porquinhos e suas vacas e seu vaqueiro.
               Numa manhã,  quando o sol vinha nascendo quente feito fogo, o vaqueiro, Cavalgando o seu campeiro, ia-se aproximando do poço do buritizeiro. De repente, inopinadamente, sentiu uma tonteira mergulhante. Não como de outras feitas.  O chão, desta vez,  não lhe rodava em torno: era o buritizeiro que ia se afundando, vagarosamente, com lentidão, assombrosamente, pântano adentro.
               -Tonteira? –Meu Deus!! – Estou morrendo e me sepultando ao mesmo tempo.
 A palmeira foi desaparecendo, sumindo, e com elas as outras, o capão inteiro. Os Fetos.  As samambaias. As araras,  as maracanãs, tudo, de roldão., num balé catalítico, ruidosamente tragado.
                Um imenso espelho liquido, gigantesco, sobrenadou então, semi-oval, oscilante, tremendo.
                Um estrondo. Um trovão. E a vereda se desmoronou.  
                Alguma caverna, por certo,  que os tempos geológicos construíram muito bem fundo da terra, partira a sua abóbada, chupando o lençol artesiano, emergindo este e submergindo o  oásis verde, anfiteatro da orquestra da passarada..
                Todo mundo em derredor, o cerrado, o vaqueiro com seu cavalo, as vaquinhas que apascentava, as nuvens grossas, pesadas, lá em cima, tudo, tudo, refletia-se agora fantasmagoricamente na face polida e tranqüila das águas.
                 O vaqueiro, perplexo, pasmado, vencido, retorna à sua choupana e exclama:
-Tia!- O poço do buritizeiro virou uma Lagoa Feia...



ARQUIVOS DE UBIRAJARA MACEDO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário