Reportagem extraída no site: http://www.estadao.com.br/especiais/tapuiassauro-o-novo-dinossauro-do-brasil,118436.htm
Tapuiassauro, o novo dinossauro do Brasil
Conheça a nova espécie de titanossauro do Brasil, descrita por pesquisadores do Museu de Zoologia da USP, e compare-o com todos os dinossauros conhecidos do País
Em 2005, um dos membros da equipe de Paleontologia do Museu
de Zoologia da USP, através de seu perfil em uma rede social (Orkut) foi
contatado por um aluno de Biologia, morador do município de Coração de Jesus
(MG). O mesmo comentou que já havia visto alguns ossos petrificados nas
fazendas da região. A partir dessas informações e algumas fotos, a equipe de
Paleontologia do Museu de Zoologia da USP, coordenada pelo professor Hussam
Zaher, montou uma expedição de reconhecimento da área, sem imaginar o que estaria
por vir.
Quando falamos de Paleontologia, é difícil não lembrar um de
seus temas mais cativantes: dinossauros.
Dinossauros são vertebrados exclusivamente terrestres que
viveram durante a Era Mesozoica. Sua história evolutiva é longa, com cerca de
160 milhões de anos, e teve início há aproximadamente 230 milhões de anos
atrás, no Período Triássico, estendeu-se durante o Período Jurássico e, no fim
do Período Cretáceo, perto de 65 milhões de anos atrás, um grande evento de
extinção eliminou da face da Terra a maioria de seus representantes.
Esse grupo de sucesso viveu e diversificou-se em formas,
tamanhos e hábitos variados por mais de 150 milhões de anos na face da Terra,
inclusive onde hoje está localizado o território brasileiro.
Mas pouco se fala em dinossauros brasileiros. Com 18
espécies descritas atualmente esses nunca foram tão famosos e nunca chegaram a
“protagonistas” de filmes, como o tiranossauro ou velociraptor. Mas, do ponto
de vista da relevância científica, o Brasil tem ótimos representantes.
Saturikosaurus pricei, Saturnalia tupiniquim, Guaibasaurus candelariensis,
Amazonsaurus Maranhensis são alguns deles.
Titanossauro na Bacia São-franciscana
Recentemente, o Brasil ficou em destaque no meio
paleontológico internacional com a apresentação para a comunidade científica de
um novo dinossauro: o Tapuiasaurus macedoi.
Seu esqueleto fossilizado foi encontrado em rochas
sedimentares nos arredores do município de Coração de Jesus, ao norte de Minas
Gerais. Essas rochas fazem parte da Bacia São-franciscana e datam do Período
Cretáceo Inferior, com idades em torno de 120 milhões de anos.
O nome científico do tapuiassauro – Tapuiasaurus macedoi – é
uma composição em latim que faz referência aos índios que viviam no interior do
Brasil na época do descobrimento, chamados na linguagem Gê de “tapuias”; e
“sauros”, do grego, que significa lagarto. O nome da espécie, “macedoi”,
homenageia Ubirajara Alves Macedo, um dos pioneiros a descobrir os depósitos
fossilíferos da região de Coração de Jesus.
Os primeiros fósseis do tapuiassauro foram encontrados em
2005. À medida que seus fósseis eram achados, foi possível ver com mais clareza
que se tratava de um novo dinossauro. Mas a surpresa maior viria na expedição
realizada em 2008.
A cara do dino
Em termos gerais, o tapuiassauro não se diferencia tanto do
padrão anatômico corporal dos titanossauros conhecidos no mundo. O grande
diferencial nessa espécie é a cabeça.
O tapuiassauro é o primeiro titanossauro brasileiro
encontrado com a anatomia de seu crânio totalmente preservada. No mundo só
existem outros dois crânios quase completos: Nemegtosaurus, encontrado na
Mongólia (Ásia) e Rapetosaurus, em Madagáscar (costa leste da África). O crânio
do tapuiassauro possui um formato alongado, semelhante ao crânio de um cavalo.
Esse padrão já era comum entre titanossauros do Cretáceo Superior (90 milhões
de anos), sendo também semelhante à de outros saurópodes sem parentesco direto,
como o Diplodocus. Dessa forma, os
pesquisadores concluíram que esse formato de cabeça aparecera mais cedo, no
Cretáceo Inferior, muito antes dos titanossauros avançados se tornarem um grupo
dominante. Crânio do Tapuiasaurus macedoi Zaher et al. 2010.
A forma de sua cabeça também permite inferir e entender
vários aspectos da Biologia desses animais. Seus olhos, posicionados
lateralmente na parte posterior do crânio, davam a esses animais uma visão mais
ampla do que acontecia no ambiente ao seu redor. Assim, quando o animal se
alimentava ou bebia água, podia notar facilmente a presença de outros animais
ou predadores.
Outra característica interessante do crânio do tapuiassauro
são seus dentes. Como a maioria dos Saurópodes, ele era herbívoro, ou seja,
alimentava-se de vegetais. Os dentes em forma de lápis indicam que o
tapuiassauro devia alimentar-se usando-os como um rastelo, puxando as folhas
nos galhos das arvores ou mesmo pastando plantas flutuantes à beira de corpos
d’água. Essa última ideia nos leva a outra característica do crânio: a narina
posicionada na parte superior da cabeça.
Essa característica também era comum entre os Saurópodes e,
possivelmente, estava relacionada com o hábito alimentar do animal. Uma narina
na parte superior da cabeça, entre os olhos e associada a um crânio alongado,
permitia que esse animal se alimentasse enfiando a cabeça entre arbustos ou na
água sem atrapalhar sua respiração.
O tamanho e a constituição do crânio do tapuiassauro também
chamam a atenção. Comparado com o tamanho do corpo, o crânio é
desproporcionalmente pequeno e formado por ossos muito finos. Mas existe uma
explicação para isso. Sua cabeça precisava ser pequena e muito leve para que
seu pescoço longo pudesse sustentá-la de maneira adequada.
Do ponto de vista biogeográfico, o tapuiassauro contribui
para o entendimento da distribuição global desse grupo de Saurópodes avançados
nos continentes durante o Cretáceo Superior (África, Américas e Ásia).
A descoberta do tapuiassauro é sem duvida um marco na
Paleontologia. Seu crânio completo e em excelente estado de preservação – algo
muito raro – nos dá uma boa ideia da “cara” desses animais. Mas esta ainda é
uma pequena peça do grande quebra-cabeça da diversidade de vida pretérita.
Ainda há muito que se “escavar” até compreendermos como era a vida na Terra no
passado e como podemos usar esse conhecimento para melhorar as condições da
vida no futuro.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/o-novo-dino-brasileiro/. Acessado em: 11/01/2013.








Fonte: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/o-novo-dino-brasileiro/. Acessado em: 11/01/2013.




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